Jornal ABC - 22/07, por JFBF

Você já pensou na relação entre a mágoa e um pote daquele tipo Tupperware, cheio de vômito? Imagine que você almoçou na casa de um amigo e sobrou a comida que você mais gosta. Esse amigo gentilmente sugeriu que você levasse um pouco dessa comida para casa e lançou mão de um pote plástico para que você possa levar a comida. Na outra semana, você vai visitar novamente esse amigo e como bom cidadão brasileiro leva o pote lavadinho, pois procura seguir ética da dona de casa. Pega o metrô e senta na janela. Na terceira estação entra alguém que senta ao seu lado despretensiosamente. Infelizmente esse alguém teve uma noite ruim e o café da manhã não sentou muito bem... algumas paradas depois, inesperadamente, essa pessoa vomita, mas vomita muito! Vomita o chão do trem, vomita nos seus próprios pés e vomita em você inteirinho. Desesperado e sem saber o que fazer com tudo aquilo, você lembra que carrega um pote plástico nas suas coisas e resolve usar objeto para tentar limpar o excesso de sujeira para poder pelo menos chegar até o banheiro da próxima estação. Que história terrível, não é mesmo? Só de escrever isso já faço uma cara de nojo! Mas você, surpreendentemente, fecha o pote com todo aquele vômito e guarda nas suas coisas. Agora você anda com um pote cheio de vômito alheio e sem explicação, leva o objeto para a casa do seu amigo com o intuito de contar em detalhes a situação horrível que você viveu. Ao chegar na casa do seu amigo desabafa toda a história e, para poder ser bem detalhista, mostra o pote cheio de vômito para que ele consiga ter empatia com a sua situação, podendo sentir o cheiro e o mesmo mal-estar que você viveu. Seu amigo, como não é louco diz: pode ficar com o pote para você! Eu não quero isso para mim! Porque carregar isso? Os dias passam e você segue carregando o pote de vômito. Volta e meia lembra daquele momento terrível e abre o pote para sentir novamente aquele mal-estar, o cheiro, o enjoo e a repulsa. Passam-se anos e você segue carregando o pote de vômito para que, de vez em quando, acesse aquela lembrança com toda aquela sensação ruim. Ora, qual é o motivo racional de se carregar um pote cheio de vômito e acessa-lo de tempos em tempos, só para sentir todo aquele mal-estar outra vez? A pessoa que vomitou em você nem lembra o que fez e certamente não queria ter vivido aquela situação, simplesmente aconteceu. São coisas da vida. O seu “agressor” poderia ter evitado, vomitado para o outro lado, mas o fato é que foi em você. Você, por outro lado, poderia ter jogado fora aquele pote sujo na primeira estação, mas você preferiu se apegar e carregar a nojeira consigo por muito tempo. Sem sentido, não? Então porque carregar a mágoa e o ressentimento de uma pessoa? Isso não faz mal para o outro, mas faz para você. Se vomitarem emocionalmente em você um dia, é natural que você tenha se chateado na hora. Isso é ser humano. Mas ficar distribuindo maldade e agressões ou semeando inverdades na crença de que vai devolver a sua mágoa na mesma moeda, só fará mal a você mesmo e às pessoas que estão ao seu redor. Você se torna aquele que você pensa que te agrediu, ou pior. O perdão se dá quando você escolhe não carregar mais o ressentimento. Manter o coração preso a uma situação ou pessoa e seguir compartilhando esse mau cheiro com as pessoas ao seu redor é absurdo. Não te tornes uma pessoa amarga, rabugenta ou pior, de má índole e mentirosa, na crença de que estás te vingando. Escolha ser maior, escolha perdoar. Isso var tornar a sua vida mais leve e saudável e quem sabe te tornará mais interessante. 

E, se algum dia eu vomitei em você, perdão.