03 de April de 2019
A vida do Lucas valeu a pena

Jornal ABC - 31/03, por JFBF

Filhos que perdem os pais são órfãos. Cônjuges ficam viúvos. Mas para pais que perdem seus filhos, não existe definição. Ninguém está preparado. Ninguém sequer ousa pensar nessa situação, pois estamos programados biologicamente para sobreviver e para proteger os nossos filhos, nosso legado, nossa perpetuação. A morte prematura de uma pessoa jovem e do bem, quebra toda a nossa compreensão do sentido da vida, do certo e do errado, do justo e do injusto e o chão literalmente some debaixo dos nossos pés. E foi exatamente isso que aconteceu na última semana, quando minha turma da pescaria e dos jantares de terça, sofreu um grande baque. Perdemos o filho de um dos nossos integrantes, o filho mais novo do Frank. Todos nós perdemos alguém muito importante na última terça. Todos nós aprendemos algo com essa partida. Todos nós tivemos um banho de consciência do que realmente importa nessa vida. Ficamos devastados, embora a empatia com a perda do nosso amigo não possa dimensionar o tamanho da dor que toda a sua família está vivendo. 

Somente a crença em algo maior, a ideia de um plano Divino, de que anjos existem ou de que isso foi apenas um até logo, já que a vida é eterna, podem amenizar essa dor e nos conectar novamente com Deus e com o nosso propósito de vida.

O Lucas, de tão bacana e de bem com a vida, já era um membro do nosso grupo. Tinha uma sabedoria que não era própria da idade. Foi um guri tão querido, que nada nessa vida material pode explicar a sua partida a não ser a ideia de que ele está retornando para o lugar de onde ele veio, um lugar muito melhor do que o Planeta Terra, onde ele veio pelo tempo necessário para dar o exemplo e plantar o amor e de tão eficiente, pôde voltar mais cedo para casa. É, acho que o Lucas veio para a Terra fazer um trabalho voluntário, de resgate de seres humanos e agora que encerrou sua tarefa com êxito, pode voltar para o paraíso, seu lugar de origem. Imagino que ele está nesse lugar melhor, na torcida de que tenhamos aprendido algo com a sua breve passagem e que desde já, ele nos espera sorridente e entusiasmado. Esse menino de 26 anos, bonito, querido, poeta, músico e parceiro do seu pai, às vezes se dava folga da árdua tarefa de ser estudante de medicina para jantar com a nossa turma das terças e jogar conversa fora. Agora me dou conta de que de fato, ele não era daqui, pois são raros os jovens que gostam de sentar e conversar com a velha guarda, para aprender algo ou para compartilhar a sua sabedoria ancestral. 

Ele já foi, assim como nós todos iremos um dia. E desse lugar melhor e mais evoluído, o Lucas nos assiste, torcendo que sua vida tenha melhorado em alguma coisa as pessoas que tiveram a sorte de conhecê-lo. E nós que ficamos, saímos da sua despedida com o propósito de fazer tudo ter um sabor mais doce. E quem sabe, se formos mais leves, amorosos e conscientes aqui nessa vida, possamos um dia te reencontrar.  Eu acredito!