26 de November de 2018
Aprecie-se!

Jornal ABC - 25/11, por JFBF

Diz a lenda que em uma tribo indígena muito antiga, quando um membro da comunidade errava, era criado um círculo com toda a tribo no centro da aldeia e o índio que cometeu o erro era colocado bem no meio desse círculo. A partir daí todos os membros da tribo começavam a falar das coisas boas que aquele índio fizera ao longo de sua vida e sobre suas atitudes positivas, relembrando-o da importância da sua vida naquela tribo. A intenção não era destacar ou julgar aquele índio pelo seu erro, mas sim, apreciar e valorizar as virtudes daquele indivíduo para que, o mais rápido possível, ele se reconectasse com o seu amor próprio, com sua positividade e com o seu melhor. 

Refletindo sobre esse conto, fico pensando na espiritualidade daquele povo que procura valorizar não o erro, mas sim as virtudes de seus integrantes pelo seu bem e pelo desenvolvimento daquela aldeia. Por outro lado, vejo o quanto nossa humanidade está ancorada nas suas culpas, nos seus enganos e ressentimentos, sustentando uma síndrome de impostor para qualquer elogio que recebe, ao invés da apreciação verdadeira sobre suas conquistas e todo o aprendizado que surge dos contratempos da vida. É comum vermos as pessoas se intitulando de burras ou referindo a si mesmas como não merecedoras disso ou daquilo. Um simples elogio é devolvido com uma desculpa ou justificativa, ao invés de um muito obrigado, reconhecendo seu esforço e merecimento. 

Como vamos ser felizes e abertos para novidades se estamos cheios de tantas coisas improdutivas? Cheios de problemas, cheios de angústias, mágoas, insatisfações, expectativas e necessidades – talvez seja por isso que nós gostamos tanto de falar de erros e temos dificuldade em proferir palavras positivas acerca de nós mesmos ou das pessoas que amamos. Nossa mente está ocupada 24 horas com as coisas que não temos, com o que ainda não fizemos, não restando espaço para o nosso melhor, aqui e agora.

E aí começa aquele buraco no peito, um vazio... uma nostalgia inexplicável que hoje entendo como a saudade de nós mesmos – da simplicidade. Com isso entramos em conflito e tudo o que ainda restava de bom começa a escapar pelos dedos, reforçando a crença de que não somos bons o suficiente e, portanto, não merecemos ser felizes. Quando se entra em desacordo com a vida, cria-se resistência e bloqueia-se bruscamente a energia positiva que é merecimento de todos. E essa energia positiva desperdiçada é justamente a força que pode resolver todas as coisas complicadas. Patrulhe seus pensamentos, não se deprecie; jamais se critique maldosamente; não “pegue no seu pé” ou afirme que tem azar ou que isso é carma. Não ressalte suas fraquezas. Valorize seu corpo com todas as marcas da vida. Perdoe-se e tente se melhorar valorizando mais o que você é de verdade. Não desista de si e nem dos seus sonhos por que algum dia te disseram que você não era capaz.

Ame-se incondicionalmente, pois o segredo para todas as coisas darem certo e tudo fluir na sua vida é valorizar sua existência, às vezes errando, às vezes acertando, mas sempre apreciando a caminhada, que é única e é toda sua!