24 de April de 2019
Verdade, qual é a sua?

Jornal ABC - 21/04, por JFBF

O que é a verdade para você? O conceito de verdade é algo impreciso, pois a minha verdade pode não ser a sua verdade e vice e versa. O dicionário nos dá a definição da palavra verdade como propriedade de estar conforme com os fatos ou com a realidade. 

Mas o que é um fato? É algo irrefutável. E contra fatos não há argumentos. Por fim, o que é realidade? É algo real, que existe. Mas a realidade do povo Sírio não é a nossa realidade. A realidade do povo africano não é a realidade dos alemães e a realidade dos brasileiros não se parece em nada com realidade do povo britânico. Então, como discernir verdade de fato e de realidade? É correto dizer que o que não conhecemos é mentira? É correto afirmar que o fato vivido por alguém não é real só porque nós não passamos pela mesma experiência? 

Do latim Veritas, a verdade significa algo que existe. Entretanto, as pessoas esquecem que, muitas vezes, uma opinião se disfarça de verdade. Uma informação pode ser dada e milhares de opiniões também, mas é impossível que haja milhares de verdades. Existe sim, uma verdade com milhares de opiniões.

A mente humana tende a valorizar aquilo que lhe traz conforto. Já o que tira o pensamento da zona de conforto é naturalmente recusado; se incomoda ou cria um certo conflito, não é agradável e se não é agradável, provavelmente não é bom. Se não é bom, não é aceito e é julgado. 

O relativismo moral também pode fazer com que verdade seja algo vinculado à moral de um determinado grupo e relacionado a sua cultura. Por exemplo, uma sociedade indígena possui princípios éticos que permitem a prática do infanticídio. Se nascer o terceiro filho e não existir alguém que possa se responsabilizar pela criança, ela será morta. Na realidade deles, isso acontece porque, se houver alguma invasão na tribo e todos precisarem fugir, o pai conseguirá carregar apenas um filho e a mãe, outro. Essa é a verdade para aquele grupo. Outras pessoas com princípios e valores diferentes, como nós, não vão aceitar essa verdade. Na China, um prato famoso e que eles adoram é gafanhoto frito. No Camboja come-se aranhas fritas. Na França os patos fornecem uma substância caríssima que é produzida pelo fígado e os franceses valorizam muito. Nós aqui no Sul comemos coração de galinha no churrasco de domingo – o que gera pavor nos americanos. Para esses povos e culturas, tudo isso é normal, mas não é normal para quem está de fora. 

Portanto, a visão de cada pessoa a respeito de um determinado assunto é produzida pela sua mente, conforme a sua realidade e suas crenças. É com base nessas crenças que cada um faz a sua escolha. A peça que encaixa no meu quebra cabeça, não encaixa no seu e vice-versa.  Isso nos torna maravilhosos e diversificados. Aprovar ou não a verdade do outro é uma escolha de cada um, um exercício do livre arbítrio e um caminho de empatia e respeito que só quem tem consciência e busca ser alguém mais justo, pode experimentar.  

Comece a pensar de uma forma diferente, uma forma mais ampla. Ninguém pode te empurrar uma verdade absoluta, mas você também não tem o direito de julgar aquilo que é a verdade do outro. Reflita sobre cada opinião e a sua importância para quem está informando, antes de dizer o que é mentira ou verdade.  Encontre as suas respostas, pesquise, tenha trabalho, saia da sua zona de conforto e tenha a sua opinião, levando em conta que a sua realidade pode ser diferente, mas nem por isso desqualifica a verdade do seu próximo.